Blog: O Brasil ainda é o país do "ame-o ou deixe-o"

Durante o sombrio passado brasileiro pouco revelado até hoje se dizia a frase "Brasil, ame-o ou deixe-o". Mas parece que o fim do período não foi muito bem assimilado por muita gente no país.

Na segunda-feira (17) a TV Cultura voltou a apresentar o tradicional programa de entrevistas "Roda Viva" ao vivo e com uma nova reformulação em seu estilo, voltando as origens com um formato de estúdio que consagrou o programa, com seis entrevistadores diferentes a cada edição e com o comando de Mario Sergio Conti, editor de redação da revista "Piauí". Na entrevista de estreia o convidado foi Cabo Anselmo, uma figura controversa do período militar aonde era membro da Marinha (não Cabo), sendo apontado como líder da revolta dos marinheiros no Rio de Janeiro que teria dado motivação para originar o golpe de 1964, instaurando a ditadura militar no Brasil.

Anselmo mudou de lado e fez parte dos movimentos guerrilheiros ligados a extrema esquerda anti-ditadura, chegou a treinar táticas guerrilheiras em Cuba, mas foi preso, torturado e inibido, trocando novamente de apoio, colaborando como agente duplo para o governo da época, delatando companheiros, inclusive a mulher de que gostava na época. Muitos, incluindo sua mulher, Soledad, acabaram torturados e mortos. Para saber mais sobre Cabo Anselmo, clique aqui e aqui.

A história oficial sempre necessita de herois e vilões, porém, nesta briga entre os conservadores militares da ditadura e os defensores da luta armada das guerrilhas para instaurar uma outra ditadura não anunciada, mas de extrema esquerda, não existem mocinhos. No que irei escrever pouco importa a intensidade desta "vilãonisse" de cada lado.

Você pode gostar ou não da entrevista, achar o que quiser, aliás, vivemos em um estado plenamente democrático. Mas o que me intriga de deixa mais perplexo foram alguns comentários dos vídeos desta entrevista, os argumentos e o verdadeiro ringue de luta e troca de acusações ideológicas tanto dos direitistas quanto dos esquerdistas.

Esta situação só revela o passado mal resolvido do Brasil e que precisa ser esclarecido de uma vez por todas, espero eu que não desperdiçamos a oportunidade para fazê-lo de forma correta, caso realmente ocorra a comissão da verdade no congresso, de uma forma democrática e justa.

Os embates ferozes entre os simpatizantes do conservadorismo e do comunismo (que foi marginalizado pelo capitalismo após a queda da União Soviética para reforçar ainda mais seus tentáculos sobre o mundo, embora a tentativa da aplicação deste modelo tenha sido falho. E para deixar claro, eu não o defendo) me deixaram pensativo por um tempo. Então pude concluir que o Brasil não deixou para trás a frase "ame-o ou deixe-o", dos extremos.

Tornou-se impossível uma pessoa se posicionar em um tema polêmico sem ser taxada de algo terrível por alguém contrário aquilo que se pensa. Temos uma necessidade tão vital quanto respirar para apontar o dedo para o outro e esbravejar: "Seu ISSO!!! Seu AQUILO!!!". Para muitos, mais importante do aquilo que se defende é atacar o oposto e quem pensa contrário.

Sobre o que escrevo hoje posso ser taxado de "filhote da ditadura, reacionário e golpista" pelos extremistas da esquerda, enquanto os da direita fervorosa podem me chamar de "guerrilheiro, comunista (como se isso fosse algum crime) e comedor de criancinha", e que se juntam para chamar quem não é favor dos seus ideais radicais de ser "a favor da dominação americana no mundo", algo realmente muito incompreensível, mas que não é raro.

Não perdemos a mania de "culpado e inocente" da história, e meu maior medo destes male feitos é que estes são o "futuro da nação". Qual extremo governará o país? O que esse extremo fará com o outro? Já temos exemplos em nosso passado e do mundo, além do presente mundial de ambos os lados. Será que demoraremos quanto tempo mais para descobrir que os extremos nunca fazem bem?

Assista os vídeos da entrevista na íntegra: